terça-feira, 27 de abril de 2004

Intervenção Pública XXI Congresso

Intervenção proferida no XXI Congresso do CDS, realizado na Batalha
Sr. Presidente da Mesa do Congresso
Sr. (etc.)
Sras. e Srs. Congressistas;

O CDS e alguns dos seus militantes perderam a noção do ridículo.
Uns mais envergonhados e outros menos envergonhados tem sabido manter-se como “operacionais” activos, questionando e boicotando propositadamente tudo o que tem sido feito pelo actual líder, subvalorizando, inclusive o perfil político de alguns dos actuais dirigentes, quem sabe se para ganharem tempo, até que alguém convencido de que se trata de um “pato-bravo” da política, volte a concorrer à liderança do CDS/PP.
Neste ano de liderança do Dr. Ribeiro e Castro, houve quem ficasse agastado com a estratégia nas presidenciais, porque não queria apoiar Cavaco Silva sem negociar ou, melhor do que isso, creio eu, não queriam apoiar Cavaco Silva, fosse de que maneira fosse.
Mas não têm a coragem para o assumir, porque Cavaco Silva ganhou as eleições e não querem, agora, perder o “comboio” da colagem presidencial.
Mas se Cavaco Silva tivesse perdido as presidenciais, podem estar certos que teríamos tido “ex. dirigentes” e alguns “bonecos”, uns atrás dos outros, a alternarem declarações bem pensadas, e a atacar a opção e a estratégia do CDS e do Dr.º Ribeiro e Castro nas presidenciais.
Não estamos em época de eleições, pelo que o CDS não tem hoje rigorosamente nada para dar, por isso temos que aproveitar o momento e trazer algo de novo a Portugal, temos que conseguir inovar e deixarmos de ser demasiado conservadores, temos que nos modernizar porque continuamos demasiado agarrados ao passado. E o passado é para os historiadores.
O CDS, tem que confrontar-se permanentemente com o desafio de ter que reconquistar o seu espaço político e eleitoral.
Tal como não podemos lavar as mãos porque fomos responsáveis pelas asneiradas do último governo da coligação PSD/CDS, também não podemos perder a inteligência nem a noção do patético.
Por isso é lamentável que alguns militantes, alguns dirigentes e alguns deputados, em vez de se preocuparem, como deviam, prioritariamente com o crescimento e a unidade do CDS — se transformaram, com o tempo (e por outros motivos que não vou agora referir), em instrumentos de lutas pelo poder interno, e para a “compra” e “venda” de apoios internos ou de votos, em passerelles de vaidades pessoais, contradições, divisionismos e desequilíbrios.
É suposto que todos tenham espaço próprio de intervenção, e de afirmação das suas ideias e propostas, independentemente da sua capacidade de pressão sobre a estrutura dirigente. O que é facto, é que nada disso acontece, porquanto mais do que agentes de desestabilização ou instrumentos de assalto ao poder recorrem à intriga, ao compadrio, aos favores, às promessas de trocas de lugares por apoios em determinados momentos ou para fins específicos, funcionando assim como um anti-partido.
E o líder da Juventude Popular, é disso uma prova indiscutível, a partir do momento em que anunciou a intenção de encabeçar uma moção alternativa à do presidente do CDS-PP
O regulamento do congresso dispensa a Juventude Popular de apresentar com a sua moção uma candidatura à liderança do partido mas, o líder da J.P. justificou a sua candidatura dizendo: "Aceitei encabeçar uma moção de estratégia e cumprir um requisito estatutário em nome de um grupo geracional de pessoas que querem apresentar ao partido ideias alternativas".
Parece-me assim que a Juventude Popular em vez de pugnar pela unidade do partido, está mais apostada em fomentar o divisionismo interno.
Não discuto a legitimidade da candidatura da JP, ou de qualquer outro militante, mas parece-me que as obrigações políticas do líder da JP tem a ver com os jovens que dizia servir.
Assim, mais do que uma moção que me parece oportunista, é uma moção que está claramente ao serviço de uma facção do CDS que não tem a coragem de dar a cara e combater directamente o Dr. Ribeiro e Castro.
Li recentemente um cronista que dizia e cito: O que João Almeida não nos explica, e essa seria a sua obrigação, é para que serve a organização que lidera, que utilidade tem ela tido para os jovens portugueses, que iniciativas tem desencadeado a favor dos jovens com dificuldades de integração ou mesmo marginalizados, que contributos válidos trouxe no urgente remobilizar de uma juventude cada vez mais distante da política e dos partidos. – citei.
Todos juntos, militantes de base, dirigentes concelhios, distritais ou nacionais, deputados e simpatizantes temos que inverter o modo como encaramos este partido senão por este andar ainda nos transformamos de novo no partido do táxi, a persistirmos no caminho que vimos a percorrendo, dificilmente serviremos seja a quem for.
E termino citando um ilustre militante do nosso partido…
Todos os que lutámos, sentimos o resultado como profundamente injusto. E vimos os “abutres” pedirem demissões, …. Sou firme de carácter e resistente de feitio. Vou, por isso, á luta com todos os que trabalharam.
Foi com estas palavras, e por escrito, que o Dr. Paulo Portas me desejou um grande ano de 2002.
E é com estas mesmas palavras, Dr. José Ribeiro e Castro, que publicamente lhe desejo uma grande caminhada até 2009 e conte comigo.

domingo, 25 de abril de 2004

Abril 2004

DISCURSO DE 25 DE ABRIL DE 2004

Senhor Deputado á Assembleia da República, Senhor Presidente e restantes membros da Mesa da Assembleia Municipal, Senhores Membros da Assembleia Municipal, Senhor Presidente e Senhores Vereadores do Município do Bombarral
Senhores Presidentes de Freguesia, Demais entidades aqui presentes, Senhores Convidados; Minhas Senhoras e meus Senhores :

PARA UNS foi há séculos, para outros ontem, para os mais jovens um acontecimento da sua pré-história. Como só há história do presente, é do «outrora agora» do 25 de Abril que, queiramo-lo ou não, convém falar.
UMA homenagem ao 25 de Abril é uma homenagem à liberdade. E não leva em conta os excessos cometidos, as hesitações e os fracassos - seja qual for a vertente de análise, o valor da liberdade sobrepõe-se aos acidentes de percurso. Que, apesar de importantes para a História, em especial pelas lições que deles tiramos, se tornam irrelevantes quando se trata de considerar que vivemos em democracia há 30 anos.
As homenagens, por bem intencionadas que sejam, correm, porém, o risco de se tornar banais por mera sucessão de ritos, palavras e histórias inexoravelmente gastas pelo tempo. Para um jovem de hoje, qual o real significado das palavras ditadura, censura, repressão, clandestino, desertor e tantas outras que foram vocabulário corrente há 30 anos?
E se o 25 de Abril tivesse falhado? E se hoje vivêssemos sem liberdade?
E se nos mantivéssemos no 24 de Abril, (data que no imaginário representa os 48 anos do Estado Novo e sobre a qual passam hoje 30 anos)?
Este pensamento tem o seu quê de absurdo, tanto mais porque o regime anterior estava apodrecido e as guerras em África não eram sustentáveis. E porque foi precisamente a revolução portuguesa que inaugurou o que os historiadores consideram a terceira vaga de democratização: a Grécia e a Espanha, países que acompanhavam a nossa perversão totalitária, democratizaram-se; a América Latina, viveiro de ditadores, aderiu e cada vez mais adere à democracia; a União Soviética e os países do Leste da Europa abandonaram os seus governos concentracionários.
Apesar de tudo, decidimos imaginar. Ficcionámos um Portugal sem liberdade, isolado da Europa e por consequência paupérrimo, retrógrado, sem qualidade de vida, sem desenvolvimento, sem orgulho, ostracizado - a mais provável consequência de uma ditadura que, estando em vigor há 48 anos, se prolongaria por mais 30.
As nossas palavras pretendem unicamente transmitir esse retracto de um Portugal que seria absurdo e ridículo.
E é pelo contraste da ficção com o que é hoje o Portugal verdadeiro que prestamos a devida homenagem a todos aqueles que, desde muito antes do dia 25 de Abril de 1974, contribuíram de alguma forma para a democracia, o desenvolvimento e o prestígio internacional de que nos orgulhamos.
Ao prestarmos aqui hoje, mesmo que tardiamente, justa homenagem a homens e mulheres deste concelho que se notabilizaram pela forma como lutaram pela democracia e liberdade em Portugal.
Não estamos somente a homenageá-los mas estamos também a afirmar que nunca mais queremos: tempos de censura, de falta de liberdade e de um gosto antiquado.
Enfim, não queremos um país cinzento, onde os mais velhos temeram viver toda a vida e que os mais novos felizmente não conheceram. Um país sem alma nem chama, feito de preconceitos, de força bruta e de sentimentos reprimidos.
Numa palavra, não queremos um Portugal sem Abril.

Viva Portugal