domingo, 25 de abril de 2004

Abril 2004

DISCURSO DE 25 DE ABRIL DE 2004

Senhor Deputado á Assembleia da República, Senhor Presidente e restantes membros da Mesa da Assembleia Municipal, Senhores Membros da Assembleia Municipal, Senhor Presidente e Senhores Vereadores do Município do Bombarral
Senhores Presidentes de Freguesia, Demais entidades aqui presentes, Senhores Convidados; Minhas Senhoras e meus Senhores :

PARA UNS foi há séculos, para outros ontem, para os mais jovens um acontecimento da sua pré-história. Como só há história do presente, é do «outrora agora» do 25 de Abril que, queiramo-lo ou não, convém falar.
UMA homenagem ao 25 de Abril é uma homenagem à liberdade. E não leva em conta os excessos cometidos, as hesitações e os fracassos - seja qual for a vertente de análise, o valor da liberdade sobrepõe-se aos acidentes de percurso. Que, apesar de importantes para a História, em especial pelas lições que deles tiramos, se tornam irrelevantes quando se trata de considerar que vivemos em democracia há 30 anos.
As homenagens, por bem intencionadas que sejam, correm, porém, o risco de se tornar banais por mera sucessão de ritos, palavras e histórias inexoravelmente gastas pelo tempo. Para um jovem de hoje, qual o real significado das palavras ditadura, censura, repressão, clandestino, desertor e tantas outras que foram vocabulário corrente há 30 anos?
E se o 25 de Abril tivesse falhado? E se hoje vivêssemos sem liberdade?
E se nos mantivéssemos no 24 de Abril, (data que no imaginário representa os 48 anos do Estado Novo e sobre a qual passam hoje 30 anos)?
Este pensamento tem o seu quê de absurdo, tanto mais porque o regime anterior estava apodrecido e as guerras em África não eram sustentáveis. E porque foi precisamente a revolução portuguesa que inaugurou o que os historiadores consideram a terceira vaga de democratização: a Grécia e a Espanha, países que acompanhavam a nossa perversão totalitária, democratizaram-se; a América Latina, viveiro de ditadores, aderiu e cada vez mais adere à democracia; a União Soviética e os países do Leste da Europa abandonaram os seus governos concentracionários.
Apesar de tudo, decidimos imaginar. Ficcionámos um Portugal sem liberdade, isolado da Europa e por consequência paupérrimo, retrógrado, sem qualidade de vida, sem desenvolvimento, sem orgulho, ostracizado - a mais provável consequência de uma ditadura que, estando em vigor há 48 anos, se prolongaria por mais 30.
As nossas palavras pretendem unicamente transmitir esse retracto de um Portugal que seria absurdo e ridículo.
E é pelo contraste da ficção com o que é hoje o Portugal verdadeiro que prestamos a devida homenagem a todos aqueles que, desde muito antes do dia 25 de Abril de 1974, contribuíram de alguma forma para a democracia, o desenvolvimento e o prestígio internacional de que nos orgulhamos.
Ao prestarmos aqui hoje, mesmo que tardiamente, justa homenagem a homens e mulheres deste concelho que se notabilizaram pela forma como lutaram pela democracia e liberdade em Portugal.
Não estamos somente a homenageá-los mas estamos também a afirmar que nunca mais queremos: tempos de censura, de falta de liberdade e de um gosto antiquado.
Enfim, não queremos um país cinzento, onde os mais velhos temeram viver toda a vida e que os mais novos felizmente não conheceram. Um país sem alma nem chama, feito de preconceitos, de força bruta e de sentimentos reprimidos.
Numa palavra, não queremos um Portugal sem Abril.

Viva Portugal